Manifesto

Algumas de minhas crenças e da minha visão da sociedade em que vivemos

Perdoar e saber pedir desculpas é algo difícil para muitas pessoas. Perdoar é empatia: entender o lado do outro. Perdoar não é esquecer: é desapegar do rancor. Quem perdoa faz para si, não para o outro. Já pedir perdão, ou pedir desculpas, é libertador, e demonstra desprendimento do ego , segurança e fortaleza do caráter. Já ser uma pessoa confiável é a base de tudo: prometer apenas aquilo que sabe que pode cumprir, cumprir o que prometeu, guardar um segredo e chegar no horário combinado. Isso é válido em tudo: nas relações com os amigos, com a família e com os colegas do trabalho. 

Mesmo que por um minuto. Parecem exemplos bobos, mas falam profundamente sobre o caráter de uma pessoa. Quem faz isso não é empático, não olha para o outro, mas apenas para si mesmo. E isso é tudo que a nossa sociedade não precisa hoje em dia.

Somos platéia de um teatro onde os personagens são os políticos, os partidos, grande parte da imprensa e das redes sociais. O judiciário tem um poder que não deveria ter e tudo acaba parando na mão da Câmara, propriedade do "centrão", que vende-se pela melhor oferta. Milhões foram gastos na CPI da COVID, criando um palco para destruir reputações sem absolutamente nenhum resultado prático. Quando o paladino da justiço é um Renan Calheiros se mostrando indignado por corrupção, alguma coisa está errada. A única certeza é que ele deveria ganhar um Oscar. A política é necessária, mas os agentes que a fazem não são sérios, e, aqueles que o são, não tem representatividade. E não há perspectiva de isso mudar nem agora nem no longo prazo.

É fato que o governo não faz direito nem o básico. Mas o futuro do Brasil é incerto porque não há competência governamental, no mais amplo sentido da palavra, para lidar com as mudanças que estão por vir. Puxando a sardinha para meu lado, não se vê no governo gente com preparo suficiente para discutir tecnologia do ponto de vista dos efeitos deletérios, por exemplo, da inteligência artificial e da perda massiva de empregos que se agravará ao longo dos anos. E faço questão de ressaltar aqui que o funcionalismo, particularmente o federal, não tem culpa neste cartório. Muito pelo contrário: tenho pouca experiência em lidar com o governo, mas posso tranquilamente afirmar que conheci técnicos excelentes, muito bem preparados. O problema é liderança, quem determina a estratégia, as diretrizes. Ou seja, os políticos. E tem mais: o governo, bem como a sociedade, não priorizam o que é mais importante. Em fevereiro de 2022, o Brasil parou uma semana para discutir o nazismo por conta de um "suposto-podcaster-nem-sei-como-definir" que fez apologia ao nazismo, acompanhado por um “comentarista político” cujo ponto alto do currículo é ter participado do BBB. Neste tempo, não priorizamos o que realmente é importante no curtíssimo prazo: a inflação que afeta principalmente os vulneráveis, as pessoas que moram na rua, a crise da pandemia.

Por enquanto, existe uma guerra civil não declarada, onde nossa preocupação é, por exemplo, o assaltante que leva nosso celular desbloqueado e rouba nosso dinheiro usando PIX. Mas com o desemprego em massa, mais pessoas não terão onde morar e nem o que comer. Essa situação aflora as necessidades mais basais de uma pessoa, e cria-se o que é chamado de “visão de túnel”, ou seja, tudo passa a ser secundário e a pessoa foca apenas na sua sobrevivência, ou seja, se proteger e se alimentar. Se com 18% de desemprego no auge da pandemia achamos que a vida virou um caos, como seria se tivéssemos 50% das pessoas desocupadas? Você já imaginou o seu condomínio muito bem guardado por seguranças particulares ser  invadido por 300 pessoas famintas? E a mesma coisa no condomínio do lado? É preciso, urgente, criar um programa de renda mínima que garanta segurança para vulneráveis e, com isso, para toda a sociedade. Duro é ter que admitir que já há 30 anos o Suplicy estava com razão!

Não me engajo na discussão se é Bolsonaro ou Lula por um motivo muito simples: não sou em quem vai escolher. Governantes são escolhidos com base nas melhores campanhas de marketing, que sempre miram em quem recebe ajuda governamental (bolsa família, ajuda Brasil ou seja lá o nome que o próximo governante inventar). Mas eu, que a vida inteira paguei 27,5% de IR, e continuo pagando do meu bolso por segurança e saúde que o governo não me fornece, não tenho voz. Independente de quem for eleito, não farei a menor diferença. E tenho compaixão por quem acredita que tem poder para fazer alguma coisa. Eu sinceramente acredito que quando separo o lixo reciclável estou fazendo a minha parte, e, por menor que seja, estou fazendo diferença. Mas, meu voto, infelizmente, não vale absolutamente nada. Quem escolhe os governantes são pessoas que, não por culpa delas, não tem instrução e conhecimento para discernir o que é sério e o que não é. Trocam votos por dinheiro, que justifica a famosa frase que “quem ganha a eleição no Brasil é a economia”. É a versão moderna do voto de cabresto do século XIX. Não há democracia, dizia Thomas Jefferson, sem eleitores informados.
 

O grande golpe da democracia no Brasil é fazer você acreditar que faz alguma diferença. Pois é. Não faz. Zero. A solução é o regime de exceção? Não, muito pelo contrário. Veja abaixo.

O governo não investe em educação porque é muito mais fácil controlar ignorantes. O que dá voto é esmola no bolso do povo e inauguração de viaduto. Além disso, investimento em educação mostra o benefício após a segunda geração (vide a Coreia do Sul - Leia neste artigo que escrevi em 2020). Um país com gente informada não precisa ter lei que proíbe o nazismo, porque qualquer cidadão razoavelmente longe de ser um cretino saberá diferenciar uma coisa que é abjeta, e a ela não vai querer associação.

Faça o dobro mesmo que para ganhar a metade. Ajude a sua comunidade e atue de forma caridosa onde você consegue ver o resultado do que fez. Doe sangue. Desconecte-se de redes sociais e escolha fontes de informação confiáveis. Não propague notícias ruins (muito menos fake news), deixe isso para os outros. Se você, assim como eu, não pode ir embora do Brasil porque tem laços familiares aqui, conforme-se. Seja uma pessoa confiável, nunca pare de estudar, seja um profissional cada vez melhor. Principalmente, produza alguma coisa que faça do mundo, se não melhor, pelo menos tolerável. E note que você não vai conseguir isso se ficar zapeando Instagram. 

© Copyright 2022 Fabiano Castello.